Para a Tradição Taoísta, o amanhecer é considerado a primavera do dia, o horário em que a se natureza expande e doa vida a todos os seres. Assim, acordar cedo e fazer um exercício respiratório permitem entrar em contato com o fluxo da vida. Neste horário é incentivado fazer exercícios físicos mais intensos ao ar livre, já o entardecer, por sua vez, é considerado o momento em que a natureza recolhe e colhe o que está na superfície, devendo, portanto, ser feitos exercícios mais moderados, dentro de casa, e com intuito de serenar e preparar o sono.
Alguns exercícios respiratórios desta tradição curiosamente têm fins aparentemente opostos, ou seja, ao mesmo tempo em que relaxam, também vitalizam o organismo e têm como qualidade serem facilmente aprendidos. Nesta visão de prática, a pessoa saudável é aquela que se sente calma e ao mesmo tempo vitalizada.
Com o seu efeito duplo de serenar e gerar energia, os exercícios aliviam a tensão e estimulam a vitalidade de quem os pratica, tornando a pessoa mais dinâmica e menos vulnerável às alterações emocionais e ao estresse. Uma pessoa que, no decorrer do dia, faz pequenas pausas de recolhimento, por meio desta técnica, diminuirá a tensão que se acumula pouco a pouco em si e que faz com que, no final do dia, seja muito mais difícil o relaxar, como conseqüência do acúmulo de tal tensão.
Como prática de recolhimento Taoísta, os exercícios respiratórios demandam um tipo de atenção bem característica, pois se deve ater à sensação física que a respiração traz no movimento de expansão e recolhimento do ventre, mais do que a um movimento puramente automático. A atenção deve ser dividida em dois momentos: um Yang mais ativo na inspiração e um Yin mais passivo na expiração. O primeiro refere-se à expansão, ao fazer, ao estar atento ao corpo e sentir-lhe o movimento; e o segundo remete ao recolhimento, ao não fazer, ao soltar o corpo e não querer nada, apenas e principalm’1ente soltar-se e deixar fluir1. Sinteticamente falando, a intenção durante o exercício é dividida entre o sentir e o relaxar o corpo.
O ato de se concentrar na sensação do pulsar da respiração, localizada no abdome, conduz a um estado de relaxamento, bem como a um treino da atenção, que se trata de uma importante etapa a ser desenvolvida para a prática de uma serenidade profunda, ou seja, a meditação propriamente dita.
Relaxar é gerar e aumentar o potencial de vitalidade, alcançado quando o corpo, as emoções e a mente ficam tranqüilos, principalmente pelos estímulos ofertados por meio da respiração abdominal, realizada no ponto central de energia do corpo, localizado na região atrás do umbigo. Este centro é conhecido pelos Taoístas como o mais importante para o comando da energia de todo o corpo, sendo a respiração abdominal a forma mais básica de estimulá-lo. O seu nome é Tai Chi e representa o lugar onde o Yin e o Yang se encontram.
Portanto, a respiração se caracteriza como um cuidado elementar para a saúde. Sua realização, na concepção Taoísta, é referida como prática preparatória à meditação mais indicada no nascimento do dia, pois tal momento expressa a relação sincrônica existente entre a natureza e o ser humano, a partir do momento da primeira respiração.
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) concebe a saúde como um potencial de energia vital que circula pelo corpo por uma rede de caminhos denominados, no Ocidente, de meridianos de energia, em alusão aos caminhos imaginários com os quais foi dividida a terra. O meridiano do pulmão, que tem como horário de fluxo entre 3h e 5h da madrugada, inicia a seqüência dos 12 meridianos básicos que transportam a energia vital pelo corpo e comanda a circulação da energia que atua na sua superfície, o Wei Tchi (energia de defesa). No Ocidente, o conceito de imunidade ou resistência do organismo equivale, na medicina chinesa, à boa expressão do Wei Tchi. Para a MTC, a prática de exercícios respiratórios estimula a circulação da energia de defesa pela superfície do corpo, interferindo na abertura e no fechamento dos poros, controlando a transpiração, ajudando as estruturas articulares, como também a saúde e a aparência da pele.
Se pensarmos na respiração como o primeiro e o último ato feito na vida de uma pessoa, por mais reflexo e mecânico que este ato possa parecer ser, fica possível compreender o porquê que o seu estudo e aprimoramento suscitaram tanta importância em todo Oriente. Como dizem os Mestres Taoístas, só é possível compreender alguma prática com profundidade por meio da experiência. Sem praticar e sentir por si próprio o resultado, tudo o que foi dito são apenas palavras e nada mais.
1Esta expressão está relacionada à busca de uma espontaneidade no relaxar, em que se permite que haja uma melhor fluidez da energia vital pelo corpo, fato este que é realçado por um estado de desprendimento e não intenção.
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
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