segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Cinco cuidados - Alimentação

Ouvi certa vez uma jovem mãe dizer que sua filha de seis meses de idade adorava ser levada ao MacDonald's. A moça em questão era filha de uma enfermeira, possuía curso superior e estava com 25 anos de idade; pela sua atitude, parecia que os cuidados com a alimentação não eram preocupações que lhe despertavam grandes interesses.
O sentido dado ao ato de comer pode variar de pessoa a pessoa. Comer pode ser um ato prazeroso por vários motivos: nutre o corpo e o mantém vivo, cria um espírito de comunhão entre as pessoas que compartilham uma refeição e também, muitas vezes, substitui necessidades afetivas, que direcionam o ato do comer e impelem à escolha de certos alimentos.
Desde o nascimento, a fome, enquanto impulso primário, expressa a necessidade de suprir o corpo de energia para dar continuidade à vida. Com o alimento o bebê tem a sensação prazerosa de saciedade, segurança e proteção. Juntamente ao afeto recebido, a alimentação nos primeiros meses de vida estabelece uma referência marcante que influenciará as escolhas futuras do indivíduo na busca de vitalidade, comunhão, segurança e consolação, por meio dos alimentos.
Para a criança, os jovens e os adultos os maus hábitos constituídos, a falta de orientação, os desequilíbrios orgânicos e emocionais, o modo de vida estressante e a pouca ou nenhuma compreensão do que é ou não saudável contribuem para uma prática alimentar inadequada.
Para colaborar com essa incompreensão, na sociedade atual, a idéia de saúde se mescla com a aparência - estar em forma ou com boa forma – e o conceito de alimentação passa a ser o de controle alimentar, muitas vezes por intermédio de dietas rígidas com fins momentâneos, sem comprometimento com a vida futura. Esta forma de proceder não permite o vínculo saudável e a obtenção de mudanças duradouras na alimentação.
Nas práticas taoístas e na medicina chinesa, a dieta está relacionada à vida saudável e à maior capacidade de escolha dos alimentos e, desta forma, facilita o autoconhecimento e torna a pessoa menos sujeita à impulsos prejudiciais ao seu bem estar.
A alimentação é um dos Cinco Cuidados necessários para manter-se com boa saúde e se refere a um processo complexo que se estende desde a qualidade do alimento ingerido até a sua eliminação. Ao desejar comer algo, vários impulsos do indivíduo entram em movimento e determinam escolhas alimentares que interferirão na manutenção de sua saúde.
Na concepção clássica chinesa de nutrição, o princípio do Yin e Yang e sua mutação em cinco energias diferentes, chamadas na literatura ocidental de cinco elementos, é o que dá a base para a orientação de uma boa alimentação. Estas duas forças, complementares na sua interação, transformam-se em cinco manifestações diferentes de energia que dão sabor, cor e propriedades energéticas aos alimentos, como também se relacionam aos órgãos internos, a várias atividades fisiológicas e a características psicológicas e expressões emocionais.
Na utilização prática deste princípio, busca-se o equilíbrio do corpo com o meio ambiente, ao regular, através das qualidades Yin e Yang próprias dos alimentos, o frio e o calor, a umidade e a secura e desta maneira harmoniza-se as nossas necessidades imediatas com as características externas do lugar em que estamos: se está frio comemos alimentos de característica Yang, geradores de calor, e se está calor come-se alimentos Yin, mais refrescantes. Na época mais seca, come-se alimentos que umedecem e quando está muito úmido alimentos que drenam a umidade. Regulam-se também fatores relacionados ao desgaste ou hiperestimulação pela atividade excessiva, como os alimentos de tônica Yang para o cansaço e os de tônica Yin para a agitação.
Como regra geral o alimento é escolhido de duas maneiras, a primeira, dosando-se o Yin e o Yang de acordo com a percepção de equilíbrio entre interior e exterior, sensação corporal e clima e a segunda, na escolha de alimentos variados, combinando várias cores e sabores a cada refeição, na composição de cada prato.
Outro fator de suma importância para se ter uma boa digestão, absorção dos nutrientes e dos alimentos e efetiva eliminação de seus resíduos, está no estado de espírito com que a pessoa está comendo: quanto mais tranqüila for sua refeição melhor será seu resultado.
A teoria torna-se menos complexa ao desenvolvermos uma sensibilidade observacional do próprio corpo sem se prender em especulações teóricas a cada refeição. O hábito de sentir as demandas do corpo pela auto-observação é fundamental nessa prática dietética, para que as escolhas sejam fruto da percepção das nossas reais necessidades e estejam em ressonância com a nossa saúde.
Um outro conceito desenvolvido pela acurada observação dos antigos chineses é chamado de Ciclo da Criação e Ciclo da Destruição, dois modos de relacionar-se com o mundo, presentes na vida de todas as pessoas. No primeiro, as escolhas são fruto de uma percepção a cada momento do que é ou não harmônico e, no segundo, - extremo oposto - escolhe-se o que mais prejudica e tem-se uma atração constante a aquilo que faz mal.
As práticas meditativas, ao proporcionarem aumento da energia vital, os exercícios físicos e respiratórios, ao proporcionarem liberação e distribuição de energia vital, e o sono, através do descanso, favorecem, ao darem vitalidade ao organismo, que o alimento não seja a única fonte para obtenção de energia e com isso o desejo eminente de comer diminui.
A prática da auto-observação não está somente vinculada à escolha do que comer, ela ajuda também a mostrar qual é a verdadeira motivação no instante, quais necessidades estão por detrás da escolha e se esta não foi vinculada a um estado emocional que deflagrou o desejo por aquela comida em especial. Por sua vez, as escolhas não devem ser vistas como algo conceitual, baseado em regras, e sim regidas por bom senso e percebidas nas necessidades que emergem na tessitura entre os aspectos internos e externos, próprios de cada um.

Cinco Cuidados - Sono

Recolher é gerar! A veracidade deste princípio antigo chinês é reconhecida facilmente por qualquer pessoa que tenha uma significativa perda de horas de sono tranqüilo. Evidencia-se tal princípio depois de um período estressante, acompanhado do sentimento de cansaço e da vontade intensa de dormir.
A quantidade de horas necessárias de sono varia para cada um, podendo aumentar de acordo com o cansaço acumulado e/ou a limitada capacidade de gerar energia de outra forma. Uma pessoa que dorme muito, se houver exagero, pode também se sentir cansada por não estar dispondo da circulação de vitalidade que é proporcionada pelo movimento.
O sono é a maneira mais usual e necessária de recolhimento, dificilmente substituído pela meditação, isto só acontece parcialmente com pessoas com grau avançado nesta prática. Para as pessoas em geral, dormir é insubstituível e, portanto, se faz necessário ter um especial cuidado para que o sono possa ser eficaz.
Saber dormir com serenidade e relaxamento é um dos Cinco Cuidados para a Saúde e envolve alguns conhecimentos que dão possibilidade para que o sono aconteça com mais facilidade.
A partir dos conceitos de Yin e Yang, à meia noite é o horário do extremo Yin e representa, na natureza, o ápice do recolhimento. Em seqüência, caminha para o jovem Yang, o início da expansão, que vai aparecer mais nitidamente na madrugada ao surgir a luz solar.
Alguns cuidados podem ser tomados para propiciar um sono reparador:
Quanto mais cedo dormir melhor. Para os estudiosos de medicina chinesa já aparece um pequeno sinal de expansão a partir das 23h, ocasionando em algumas pessoas uma sensação de despertar neste horário e fazendo-as dormir bem mais tarde do que seria aconselhado. Recolher-se antes deste horário, além de ajudar ao sono vir mais facilmente, faz também com que ele seja mais profundo e a pessoa se sinta mais descansada ao acordar.
Jantar no início da noite. A digestão pode atrapalhar ao sono se o alimento ingerido não for leve. No critério chinês de alimentação, quanto mais cedo for a última refeição e composta de alimentos de fácil digestão é melhor, pois favorece a capacidade de dormir rápida e profundamente. O critério de alimento leve e de fácil digestão pode variar de pessoa a pessoa, mas aconselha-se, de forma geral, a dar preferência para legumes acompanhados de poucos carboidratos, além de evitar carnes ou outros alimentos protéicos.
Relaxar antes de deitar. A prática de relaxamento antes de deitar para dormir é muito útil a pessoas com muita atividade mental nesta hora. Deitar-se com a mente muito ativa dificulta a chegada do sono e cria um estado de ansiedade que por sua vez, aumentará mais ainda a dificuldade de dormir. Fazer uma prática de relaxamento na posição sentada, prepara a mente para desligar-se, favorecendo o sono chegar mais rápido. Um recurso extra para os dias de maior dificuldade é o uso de “escalda pés”, antecedendo a ida para a cama, para diminuir o fluxo de sangue e energia na parte superior e desviar para a inferior, proporcionando, assim, mais rapidamente o relaxar.
Ouvir o corpo antes de dormir. No decorrer do dia, os afazeres comumente impedem a tomada de consciência do que está acontecendo ao corpo e quais são as suas necessidades de cuidado. O recolher é uma forma de ouvir e dar atenção às falhas no auto-cuidado, que foram acumuladas pela impossibilidade de se atentar e suprir ao longo do período de “vigília”. O exercício da introspecção favorece a elaboração de questões que, se não compreendidas, levarão ao aparecimento de sonhos agitados; favorece também a liberação do acúmulo de tensão na musculatura, das emoções reprimidas ou exacerbadas, que são prejudiciais ao sono e que causam contraturas na região cervical e na articulação da boca, podendo resultar na causa de vários problemas de saúde.
Deixar o ambiente mais tranqüilo. Se o intuito é recolher-se, então é necessário diminuir os estímulos no ambiente e induzir com isso o corpo a reconhecer o que se espera dele neste momento. Pode-se, para isso, deixar a luz suave e colocar uma música que acalme.
Portanto, o sono e o cuidado com este momento representam formas de cuidado e recolhimento que resultam na promoção da saúde.

Cinco Cuidados - Respiração

Para a Tradição Taoísta, o amanhecer é considerado a primavera do dia, o horário em que a se natureza expande e doa vida a todos os seres. Assim, acordar cedo e fazer um exercício respiratório permitem entrar em contato com o fluxo da vida. Neste horário é incentivado fazer exercícios físicos mais intensos ao ar livre, já o entardecer, por sua vez, é considerado o momento em que a natureza recolhe e colhe o que está na superfície, devendo, portanto, ser feitos exercícios mais moderados, dentro de casa, e com intuito de serenar e preparar o sono.
Alguns exercícios respiratórios desta tradição curiosamente têm fins aparentemente opostos, ou seja, ao mesmo tempo em que relaxam, também vitalizam o organismo e têm como qualidade serem facilmente aprendidos. Nesta visão de prática, a pessoa saudável é aquela que se sente calma e ao mesmo tempo vitalizada.
Com o seu efeito duplo de serenar e gerar energia, os exercícios aliviam a tensão e estimulam a vitalidade de quem os pratica, tornando a pessoa mais dinâmica e menos vulnerável às alterações emocionais e ao estresse. Uma pessoa que, no decorrer do dia, faz pequenas pausas de recolhimento, por meio desta técnica, diminuirá a tensão que se acumula pouco a pouco em si e que faz com que, no final do dia, seja muito mais difícil o relaxar, como conseqüência do acúmulo de tal tensão.
Como prática de recolhimento Taoísta, os exercícios respiratórios demandam um tipo de atenção bem característica, pois se deve ater à sensação física que a respiração traz no movimento de expansão e recolhimento do ventre, mais do que a um movimento puramente automático. A atenção deve ser dividida em dois momentos: um Yang mais ativo na inspiração e um Yin mais passivo na expiração. O primeiro refere-se à expansão, ao fazer, ao estar atento ao corpo e sentir-lhe o movimento; e o segundo remete ao recolhimento, ao não fazer, ao soltar o corpo e não querer nada, apenas e principalm’1ente soltar-se e deixar fluir1. Sinteticamente falando, a intenção durante o exercício é dividida entre o sentir e o relaxar o corpo.
O ato de se concentrar na sensação do pulsar da respiração, localizada no abdome, conduz a um estado de relaxamento, bem como a um treino da atenção, que se trata de uma importante etapa a ser desenvolvida para a prática de uma serenidade profunda, ou seja, a meditação propriamente dita.
Relaxar é gerar e aumentar o potencial de vitalidade, alcançado quando o corpo, as emoções e a mente ficam tranqüilos, principalmente pelos estímulos ofertados por meio da respiração abdominal, realizada no ponto central de energia do corpo, localizado na região atrás do umbigo. Este centro é conhecido pelos Taoístas como o mais importante para o comando da energia de todo o corpo, sendo a respiração abdominal a forma mais básica de estimulá-lo. O seu nome é Tai Chi e representa o lugar onde o Yin e o Yang se encontram.
Portanto, a respiração se caracteriza como um cuidado elementar para a saúde. Sua realização, na concepção Taoísta, é referida como prática preparatória à meditação mais indicada no nascimento do dia, pois tal momento expressa a relação sincrônica existente entre a natureza e o ser humano, a partir do momento da primeira respiração.
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) concebe a saúde como um potencial de energia vital que circula pelo corpo por uma rede de caminhos denominados, no Ocidente, de meridianos de energia, em alusão aos caminhos imaginários com os quais foi dividida a terra. O meridiano do pulmão, que tem como horário de fluxo entre 3h e 5h da madrugada, inicia a seqüência dos 12 meridianos básicos que transportam a energia vital pelo corpo e comanda a circulação da energia que atua na sua superfície, o Wei Tchi (energia de defesa). No Ocidente, o conceito de imunidade ou resistência do organismo equivale, na medicina chinesa, à boa expressão do Wei Tchi. Para a MTC, a prática de exercícios respiratórios estimula a circulação da energia de defesa pela superfície do corpo, interferindo na abertura e no fechamento dos poros, controlando a transpiração, ajudando as estruturas articulares, como também a saúde e a aparência da pele.
Se pensarmos na respiração como o primeiro e o último ato feito na vida de uma pessoa, por mais reflexo e mecânico que este ato possa parecer ser, fica possível compreender o porquê que o seu estudo e aprimoramento suscitaram tanta importância em todo Oriente. Como dizem os Mestres Taoístas, só é possível compreender alguma prática com profundidade por meio da experiência. Sem praticar e sentir por si próprio o resultado, tudo o que foi dito são apenas palavras e nada mais.
1Esta expressão está relacionada à busca de uma espontaneidade no relaxar, em que se permite que haja uma melhor fluidez da energia vital pelo corpo, fato este que é realçado por um estado de desprendimento e não intenção.

domingo, 6 de setembro de 2009

Introdução ao pensamento Taoísta

Este texto foi escrito a partir de uma coletânea de aulas do mestre Liu Pai Lin.
A jornada do dia e da noite é o que dá vida à terra e esse movimento é gerado pelo cosmos. O homem existe porque existe o céu e a terra e eles são os nossos verdadeiros pais.
Tudo que há no céu e na terra o homem também possui e se eles tem uma vida longa, nós também podemos ter. Para isso deve-se emprestar do espírito invisível, para treinar o corpo físico.
A terra é serena e recebe o brilho que vem do céu (do sol, da lua e das estrelas), então ela se movimenta com o fogo, água e o vento. A união das energias do céu e terra fazem aflorar as montanhas, que energeticamente são muito fortes. É essa mesma união que faz nascer o homem, o ser mais espiritual da natureza (em potencial).
Tudo nasce de uma energia vital chamada Lin Tchi (Lin - espiritual, Tchi - energia). O homem é quem está mais perto dessa energia, quando entra-se em contado profundo com ela, o destino não dita mais a vida desta pessoa, ela se une à origem e conduz sua própria existência.
No instante da concepção, há uma união das energias do pai, da mãe e da natureza, gerando tanto o corpo visível (físico), como o corpo invisível ou sutil, que sustenta a vida do primeiro. Este corpo sutil é chamado de ar vital ou energia vital.
Essa energia fica distribuída em várias partes do nosso corpo :
- Nas grandes articulações, que necessitam de flexibilidade e movimento natural para que essa energia circule.
- Nos órgãos internos, que desde a concepção até a pequena infância, recebem uma certa quantidade de energia que lhes dará o seu tempo de vida.
- E, principalmente nos centros de energia, distribuídos pelo nosso corpo, sendo estes uma força latente que poucas pessoas chegam a conhecer ou utilizar em suas vidas.
Os centros ficam em lugares estratégicos para possibilitar a fluidez da energia.

Da mesma forma que o planeta tem dois pólos, o nosso corpo também tem.
Estes pólos se caracterizam por terem energias de naturezas diferentes, chamadas Yin e Yang.
Yin - noite, feminino, frio, água, recolhimento, Terra, etc.
Yang - dia, masculino, calor, fogo, expansão, Céu, etc.
O nosso pólo superior ou centro de energia yang fica na cabeça e liga-se naturalmente ao Céu. O nosso pólo inferior ou yin fica na região genital e liga-se naturalmente à Terra.
O Céu, o grande yang, absorve naturalmente a energia do nosso pequeno yang. A Terra o grande yin absorve naturalmente a energia do nosso pequeno yin.
Para haver a preservação da nossa energia, é preciso unir os nossos dois pólos à mãe de todos os centros de energia que fica na região do umbigo.
Este centro também é chamado de raiz e a união do yin e yang neste lugar é o verdadeiro significado do termo Tai Chi. Esta união leva à uma sustentação e geração da nossa energia vital.
"A beleza da flor está na força de sua raiz, se esta é forte, mesmo que a flor murche, ela pode brotar numa nova primavera. Porque a raiz está escondida embaixo, não se dá a devida importância à ela." Liu Pai Lin
"A Natureza cria todas as coisas dando-lhes uma parcela de energia vital. Esta, por ser invisível e vazia parece inexistente, não pode ser vista, mas está em toda a parte e sua presença cria a vida em tudo". Liu Pai Lin
Quando a natureza recolhe de volta a sua energia, a vida acaba.
"A criança pulsa naturalmente a raiz da vida, ela não pensa, tudo acontece sozinho." Liu Pai Lin
Desbloqueando os caminhos de energia e abraçando o Tai Chi (umbigo) é possível:
1- não dispersar a energia
2- gerar nova energia com a união
3- colher da natureza
"O homem deve treinar sua energia vital para obter flexibilidade e voltar ao estado de criança. Na criança a energia vital mais entra do que sai." LaoTze
"O homem comum respira pelo peito e garganta. O homem verdadeiro respira pela raiz e pelos pés." Chuang Tze
No céu há três preciosidades: o sol, a lua e as estrelas.
Na terra há três preciosidades: o vento, o fogo, e a água.
O homem tem em si essas seis preciosidades distribuídas em três partes em seu corpo, que são: o suco cerebral, o sangue verdadeiro do coração e a essência.
Essas três preciosidades que guardam a nossa energia vital mais sutil e espiritual, quando unidas, geram umas às outras e sustentam nosso corpo físico. Esse gerador natural que o homem possui, se não é usado, perde sua função.
Essa energia vital mais sutil que foi recebida da natureza antes do nascimento e depois no período em que a moleira estava aberta é chamada de PRÉ NATAL.
A energia que é absorvida através da respiração e dos alimentos é chamada de PÓS NATAL.
Esta última é passageira, durando pouco tempo em nosso corpo, precisando ser reposta sistematicamente.
"A melhor alimentação e a riqueza material não evitam a morte das pessoas. Quando a energia que entra é menor do que a que sai, a pessoa adoece e morre rapidamente."
"Alimentar-se só da terra, volta-se rapidamente para ela, é preciso alimentar-se também do céu”. Liu Pai Lin

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Cinco Cuidados - Esquecer

A palavra “Esquecer” foi utilizada pelo mestre Liu Pai Lin para designar, nos Cinco Cuidados, o serenar, o relaxar, o recolher. É bastante apropriada para referendar não só a necessidade de cuidado com a saúde, mas também oferecer sentido a uma prática que tenha como fim a serenidade.
É preciso compreender que as grandes dificuldades encontradas pelas pessoas ao praticar alguma técnica de recolhimento está, em primeiro lugar, na forma em que ela é pensada, ao se imaginar poder exercer algum tipo de controle mental que as faça acalmar.
Aqui no Ocidente, na expressão do conceito da dualidade criadora e mantenedora da vida, sempre é colocado o princípio ativo na frente do receptivo: Céu e Terra, Expansão e Recolhimento, Dia e Noite, e é natural conceber que a ação expansiva nos dá potência, nos faz competitivos, produtivos e com isso, bem sucedidos. Já no oriente chinês tradicional sempre se coloca o receptivo Yin antes do ativo Yang expressando a compreensão que a verdadeira expansão nasce do ato de recolher e serenar.
O Esquecer designa um desejo de não fazer, de não querer e principalmente de deixar tudo acontecer livremente sem a participação (de nenhuma tentativa inútil) de parar os pensamentos. Tem a conotação de o praticante colocar-se na posição de observador de si mesmo, de estabelecer um fluxo livre - “as coisas vêm e vão e a pessoa permanece”- até espontaneamente afastar-se dos estímulos externos e internos mobilizadores da atenção.
Para os Taoístas, serenar era considerado o melhor recurso para harmonizar a vitalidade, fortalecê-la e entrar em contato consigo mesmo, porém nem todos conseguem alcançar este estado diferenciado de percepção de si. O reflexo do caos vivenciado pelas pessoas no dia-a-dia pela movimentação contínua e irrefletida da mente, das emoções e do corpo, não as impele à serenidade, pelo contrário, o movimento gera movimento e, conseqüentemente, dificuldade em recolher-se.
O Esquecer como etapa introdutória das práticas de recolhimento, induz a um estado introspectivo que reserva várias qualidades:
Gerar energia vital - dá ao praticante uma maior capacidade de ação no mundo e possibilidades de realização pessoal.
Conduzir a um estado de serenidade - possibilita a recapitulação e a compreensão das informações recebidas, a reflexão e assimilação dos elementos vividos.
Obter uma melhor interação do ser com o mundo - estabelece uma referência interna e um sentido na relação com o externo - ao saber de si compreende-se melhor o outro.
Para alcançar um estado de recolhimento profundo é fundamental estabelecer o fluxo harmônico das energias Yin e Yang no corpo e, para isso, é preciso três intenções iniciais: Sentir e Relaxar, Treinar a Atenção e Deixar Fluir, ou melhor, aprender a ouvir o corpo e suas necessidades, senti-lo e ao mesmo tempo relaxá-lo focando a atenção em seu ritmo e, por último “libertar a energia” para que ela flua livremente. Estas etapas são consideradas básicas para se alcançar o estado de meditação.
Para que isso aconteça é preciso, usando a linguagem Taoísta, um não fazer, um não querer, um permitir, um deixar manifestar aquilo que é espontâneo e conseqüente do relaxamento e que não necessita do controle e da participação da mente para acontecer. Muitas técnicas podem ser utilizadas para se atingir este estado diferenciado de consciência e são chamadas comumente de meditação, no entanto, meditar é muito mais do que aplicar uma fórmula determinada. Diz respeito ao entrar num estado diferenciado de percepção em que o corpo, a mente e as emoções estão em repouso absoluto, sem manifestar-se de forma alguma, embora a pessoa, ao mesmo tempo, sinta-se de forma intensa, mas por um novo parâmetro de percepção sobre si mesma. Este estado de percepção/consciência na tradição Taoísta é chamado de Vazio.
Alcançar o Vazio, entrar no estado de Meditação, não é algo inatingível, porém é pouco comum. A proposta que se faz nos Cinco Cuidados para a Saúde, através do Esquecer, é um treino constante e básico de recolhimento introspectivo, que se contrapõe ao estímulo dispersivo presente na expansividade do mundo moderno. O Esquecer é um se dar carinho e atenção, buscando como referência o dentro, o olhar para si, uma forma de autoconhecimento que poderá, quem sabe, em tempos melhores ser ensinado e praticado comumente.

Cinco Cuidados - Movimento

Na China antiga as práticas corporais com fins terapêuticos eram utilizadas para manter a integridade física, emocional e mental no decorrer da jornada pela vida. Naquela época, e ainda hoje, acreditava-se que o movimento corporal é indispensável ao desenvolvimento do ser humano, tanto para o bom funcionamento do organismo, como também um importante elemento para o processo de autoconhecimento. Faz-se a ressalva, entretanto, que se pode dispersar a energia vital quando feito de forma excessiva.
Algumas práticas corporais chinesas estão identificadas com a visão terapêutica da sua Medicina Tradicional (MTC) e da filosofia Taoísta que possuem uma visão energética de saúde. Estas práticas visam potencializar a energia vital e distribuí-la pelo corpo, ao usar uma movimentação que tem como característica o equilíbrio do Yin e Yang e a obtenção de uma consciência corporal que permite ao praticante serenar (yin) durante a prática, como também usufruir dos benefícios estimulantes (yang) do exercício físico.
Essas técnicas provocam a movimentação lenta e atenta, em que o se sentir na ação leva a obtenção de uma maior percepção do corpo e de suas necessidades. O movimento, desta forma, serve como treino da capacidade de atenção e ajuda a perceber e a relaxar as tensões, etapas preliminares às práticas imóveis de serenidade.
Ao movimentar-se lentamente o praticante tem mais facilidade em estar “presente” no seu fazer, sentir o corpo e atentar aos seus movimentos, como também desfruta da sensação de, aos poucos, conseguir ter uma perspectiva mais próxima das práticas de serenidade profunda. Por ter estas características, o Tai Chi Chuan pode ser descrito como uma meditação em movimento.
A inter-relação entre filosofia Taoísta, medicina chinesa e práticas corporais faz delas uma terapêutica complementar nos tratamentos de saúde e na prevenção de doenças. O movimento físico contempla o corpo em toda a sua dimensão de equilíbrio e funcionamento, em que o conjunto das partes internas e externas se complementam.
Os exercícios físicos que são benéficos à saúde, ao preservar o potencial de energia vital e distribuí-lo melhor pelo corpo, tem como características:
perceber-se durante a ação.
fazer o máximo de movimento com o mínimo de esforço.
ser firme sem ser bruto, suave sem ser mole.
flexibilizar a coluna.
não acelerar o coração e a respiração.
obter uma transpiração suave.
não induzir ao fluxo excessivo de energia para parte superior do corpo.
ativar a circulação de sangue e energia aos membros, principalmente os inferiores.
Para os taoístas, a vitalidade recebida dos pais e da natureza dá a cada um o seu tempo de vida, ela é armazenada nos sistemas de energia Água (rins) e gera a energia do sistema Fogo (coração), definindo um número de batimentos cardíacos que o corpo do individuo terá; com isso acredita-se que ao acelerar o coração, haveria um maior consumo do potencial nato de vitalidade, diminuindo conseqüentemente a longevidade.
Serenar o coração e fortalecer os rins era considerado pelos antigos chineses o estado harmônico ideal, por proporcionar que a energia do fogo (coração) que tem natureza ascendente, desça, e a energia da água (rins) que, ao contrário, tende a descer, suba, e gere no corpo um ciclo de vida igual o da natureza.
Água e Fogo, como representantes dos dois pólos energéticos Yin e Yang, devem estar unidos e regular-se mutuamente. A subida da água acalma a expansividade do fogo e a descida do fogo estimula a transformação e subida da água. A coluna, juntamente com toda a medula óssea regida pelos rins, se beneficia pela subida da água. O coração, os vasos sanguíneos e a mente se beneficiam pela descida do fogo.
A “essência” guardada nos rins, o “sangue verdadeiro” guardado no coração e o “suco cerebral” são considerados pelos taoístas como “as três preciosidades do corpo”, imprescindíveis à manutenção da saúde e da vida. A sua união, troca de vitalidades e não dispersão de energia proporcionam a chance de se ter saúde e “consciência de si para poder unir-se ao Tao e voltar à origem”, conciliando o macro ao microcosmo. Estes mesmos princípios estão presentes na prática de serenidade e nos tratamentos da medicina chinesa que não perderam o referencial da antiga filosofia Taoísta.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Cinco Cuidados para a Saúde

Durante os anos em que permaneceu no Brasil dividindo conosco os seus conhecimentos, o Mestre Taoísta Liu Pai Lin nos orientava que, para manter-se com boa saúde, era preciso ter Cinco Cuidados: Alimentação, Exercícios Físicos, Sono, Respiração Correta, e, principalmente, o Esquecer, que se trata de um estado em que a pessoa se desprende dos problemas e busca a serenidade.
A sua concepção de cuidado pode nos parecer atípica, comparada às formas atuais de se ver o corpo e a sua “boa forma”. Para se entender a perspectiva de saúde que o mestre Liu nos trouxe, se faz necessário compreender previamente três conceitos:
O primeiro e básico para a cosmogênese Taoísta. Trata-se da concepção das duas forças da natureza que juntas criam a vida, o Yin e o Yang. Estas forças são complementares e na sua interação compõem tudo o que é vivo, dando forma e dinamismo. Yin pode ser descrito como a energia que se transforma em matéria e o Yang, como “o raio que a vivifica”*. No nosso corpo, estas duas energias estão em constante atuação na manutenção da vida, o Yin criando as estruturas e o Yang suprindo-as de estímulo, para o estabelecimento das funções vitais. Uma não subsiste sem a outra e, separadas, a vida não se sustenta.
O segundo conceito é a base do pensamento terapêutico da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) e está relacionado à maneira como a pessoa deve atuar em relação a estas duas forças, para que se sustentem mutuamente. Baseia-se no princípio do equilíbrio entre a expansão e o recolhimento, na capacidade de se obter uma consciência maior das nossas reais necessidades diárias e supri-las com bom senso. Ou seja, saber escolher quando algo é bom e o quanto é recomendável de cada coisa no bem estar. Este conceito entra em conflito com a idéia ocidental de “quanto mais melhor”, atitude que não condiz com o pensamento tradicional chinês: “a suficiência da suficiência é a suficiência que dura”.
O terceiro conceito, o mais importante e o mais difícil de ser compreendido e aplicado, trata da obtenção da consciência que determina a ação. Fala de um lugar de saber que existe em nós e que é acessado de dentro para fora, nos dando um referencial interno para nossas escolhas externas. Uma ação introspectiva, um recolhimento que nos leva a Ser para Conhecer e não o contrário, como acontece usualmente. A importância deste conhecimento presente nas práticas Taoístas de meditação diz que o recolher oferece mais do que autoconhecimento, o recolhimento é uma forma efetiva de gerar energia. Para se ter uma expansão que supra de vitalidade e não a disperse, que fortaleça e proteja do estresse, faz-se necessário aprender a serenar. Contudo, se o caminho da serenidade fosse fácil, o mundo seria outro.
Estes três conceitos devem ser aplicados para a compreensão de cada um dos Cinco Cuidados com a saúde e compõem a essência destas práticas. Mostram mais do que a forma de praticá-las, dão-lhes o sentido. Interligam-se na construção de uma vida saudável frente à vida e suas demandas, de forma dinâmica e abrangente, unindo as necessidades práticas do dia-a-dia ao desenvolvimento pessoal. Cada um dos Cinco Cuidados será discutido posteriormente, utilizando, para isto, os conceitos acima descritos para melhor compreendê-los.
* Expressão usada pelo Mestre Liu.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Qualidade de vida pela Medicina Tradicional Chinesa

A busca de qualidade de vida não é fruto dos tempos modernos, já a muito outras culturas também se preocuparam com esta questão.
Os criadores da medicina chinesa, por exemplo, desde a antiguidade vem estudando o modo como nosso organismo responde ao estresse e como manter a saúde e um bom potencial de vitalidade, para melhor desfrutar a vida.
Há um conceito implícito na filosofia chinesa e presente nas suas práticas de autoconhecimento, que diz: “devemos existir na existência”, isto quer dizer que podemos participar ativamente da construção de um modo de vida saudável.
As muitas formas propostas para isso são acessíveis a qualquer pessoa e podem ser utilizadas no dia a dia com pouco comprometimento de tempo.
Para a manutenção da saúde e o seu aprimoramento é necessário conhecer nossas necessidades individuais e para isto, a medicina chinesa desenvolveu uma metodologia que nos dá consciência e acesso ao equilíbrio entre Corpo e Espirito. Corpo aqui está tratando, da inter-relação entre os aspectos físicos, emocionais e cognitivos e Espirito trata-se do potencial de energia vital recebido desde a gestação e doado pelos pais e a natureza. Esta energia vital tem conotações variadas na constituição da pessoa, da mais sutil, que concerne a dimensão espiritual do homem, a mais comum relacionada a vitalidade do dia dia e utilizada nos tratamentos de saúde da medicina chinesa.
O mestre Taoísta Liu Pai Lin ensinava que para se ter boa saúde é preciso que em 5 quesitos do nosso dia-dia se tenha uma especial forma de atenção e auto-cuidado, no respirar; comer, dormir, movimentar e o mais importante de todos serenar.
Através de exercícios físicos especializados, práticas de relaxamento e estudo do que nos é saudável individualmente, pode-se traçar o caminho de uma vida mais harmônica.
Com as práticas do Movimento (Tai Chi Chuan), Saúde (Tui Na) e Serenidade (Tao In), desenvolve-se um programa completo e variado de atividades a serem escolhidas e distribuídas conforme a necessidade de cada um.
Hoje em dia, o acesso a conhecimentos teóricos em relação à saúde ficou muito mais fácil. Livros, revistas especializadas, reportagens em todas as mídias informam constantemente a pessoa leiga sobre variadas metodologias para se obter saúde, tal qual este artigo. Porém, o conhecimento intelectual a respeito não é o suficiente para se ter bons resultados, o verdadeiro saber neste caso está no fazer e se aprimorar aos poucos no autoconhecimento fazendo escolhas adequadas às próprias necessidades.
Um bom conselho para isso é começar alguma prática para saúde mesmo que seja pequena e depois ir aos poucos expandindo para outras mais. Se a pessoa começa com mudanças radicais, dificilmente vai ter fôlego para levar adiante e pior ainda, vai gerar resistência para que em outros momentos possa retomar.
O nosso corpo por mais amortecido que esteja pela falta de atenção e cuidado, como também pelo uso exagerado de alimentos inapropriados e medicamentos paliativos, tem uma incrível capacidade de reconhecer o que lhe faz bem e ao ser estimulado pouco a pouco surge um desejo espontâneo de fazer escolhas saudáveis.
Ser constante e persistente é mais importante do que mudanças bruscas no modo de vida, a continuidade é que constrói e fortalece a consciência corporal.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Acupuntura para todos

Das técnicas relacionadas a Medicina Tradicional Chinesa, a acupuntura é a mais difundida na atualidade. No Brasil, uma importante mudança ao aceso a este tratamento pela população em geral, ocorreu com a regulamentação pelo SUS das Medicinas Complementares Alternativas (MAC), a serem praticadas nos centros de saúde, dentre elas estão a acupuntura, a homeopatia e a fitoterapia. Com isto as prefeituras que quiserem implantar estas práticas estão autorizadas.
A regulamentação feita pelo SUS permite que as aplicações de acupuntura sejam feitas por profissionais de todas as áreas da saúde o que é um grande avanço para a manutenção do ensino e prática democrática da acupuntura, à revelia da pressão feita por uma parcela da classe médica que reivindicava ser apenas ela apta a exercer essa função.
Curiosa essa posição das associações de acupuntores médicos. Dentro dessa lógica, os seus membros mais antigos estariam esquecidos que seus professores não eram formados na medicina ocidental, mal sabiam estes mestres da tradição chinesa, que dividiram seu conhecimento com todos que os procuraram, que hoje seus alunos médicos, fazem propostas no Congresso Nacional para que só eles possam ser acupunturistas.
Atualmente nas escolas de acupuntura só para médicos, o fato de ter somente professores médicos lecionando, da a impressão ao aluno que a acupuntura é uma prática restrita a essa classe.
A questão no caso, que quero levantar aqui e que considero mais importante, não é a de quem vai aplicar a acupuntura, mas com que qualidade terapêutica será feita.
Hoje a discussão sobre a acupuntura, não é mais em relação a sua eficácia e relevância cientifica, muitos são os estudos nesta área, mas em relação a como ela é aplicada. Quem tem o direito a exercer tal função, deve ser decidido mais pelas suas qualificações como detentor de conhecimento do que como membro de uma classe profissional.
A busca pela regulamentação do ensino e da prática democrática da acupuntura na legislação brasileira, acontece no Congresso Nacional desde 1984 e isto só não aconteceu ainda, pelo constante bloqueio a este projeto pelas associações de acupuntores médicos. Que preconizam a sua melhor qualificação nesta área. Outra curiosa postura de uma classe, que deteve durante anos um pensamento preconceituoso em relação a medicina chinesa, chamando-a de crendice e seus praticantes de charlatões. E agora, alguns de seus representantes se dizem donos da verdade.
Com a preocupação de garantir uma boa formação profissional de seus alunos, várias medidas foram tomadas pelos cursos (abertos a todos) de acupuntura. Hoje o aluno deve ter no mínimo segundo grau completo, o curso deve ter o número de horas exigido pelo MEC para cursos técnicos, mas principalmente, o aluno é orientado a ter postura ética de não interferência com o direito do cliente em procurar as prescrições de outros profissionais da saúde.
Em resumo o aluno deve sair do curso com um bom instrumental de medicina chinesa, sem se achar apto a fazer milagres, respeitando as suas limitações e buscando o melhor para seu cliente.
“Se você não é Deus, não diga que faz milagres.”

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Tai Chi Pai Lin

Tai Chi Pai Lin refere-se à escola criada em São Paulo pelo Mestre Liu Pai Lin, caracterizada pela forma particular e diferenciada de ensinar o Tai Chi Chuan e outras práticas afins provindas da China e de origem Taoista.
Para o Mestre Liu, o conhecimento Taoista embasa-se num tripé essencial para a compreensão dos cuidados à saúde, formado por:
Movimento - Tai Chi (ensinado no estilo Tao Kun, de base Taoista da montanha Kuan Luan)
Medicina - Tui Na, Acupuntura, Fitoterapia Chinesa e outros.
Meditação - Tao In.
O Tchi Kun, prática bastante divulgada atualmente e também ensinada pelo Mestre Liu, propõe a união entre o movimento e a interiorização, com o objetivo de mobilizar a energia vital (Tchi). Era considerada pelo Mestre Liu como um treinamento do "Pequeno Tao", por não ter a profundidade meditativa das práticas do "Grande Tao" (Tao In), que visam à serenidade e à busca do vazio. Apesar da sua importância como poderosa ferramenta para potencializar a vitalidade, deve ser ensinada com cuidado, pois, quando mal compreendida, mobiliza a energia de forma pouco natural e espontânea, caracterizando-se na contramão de uma prática saudável.
O Tai Chi Chuan pode ser descrito como uma meditação em movimento, o que o diferencia, valorativamente, das práticas de ginástica. O Mestre Liu, nos seus ensinamentos sobre o Tai Chi, não privilegiava a vertente da luta, pois considerava que esta ênfase não era mais necessária na atualidade.
Para ele, no contexto da modernidade, o enfoque deve ser nos aspectos relacionados à manutenção da saúde e à busca de um aprendizado de recolhimento e serenidade, que são mais compatíveis com as necessidades atuais de bem estar e de desenvolvimento pessoal do ser humano. Na atualidade, podemos dizer que a marcialidade implícita nos movimentos do Tai Chi Chuan volta-se mais ao combate dos "tigres que nos devoram por dentro" do que aos oponentes presentes no exterior.
Quanto ao ensino da Medicina Chinesa, o Mestre Liu inovou na medida em que introduziu o pensamento centrado no autocuidado e no desenvolvimento da pessoa no decorrer de sua vida, lançando mão de práticas específicas para tal objetivo. Do ponto de vista do trabalho terapêutico, incentivava seus alunos, futuros terapeutas, a preservarem a sua própria saúde, enquanto um requisito para estarem aptos para cuidar do outro, dizendo que: "quem se atreve a cuidar dos outros deve, no mínimo, saber cuidar de si mesmo". Assinalava também a importância de se orientar a pessoa para participar ativamente do tratamento, ensinando-lhe as técnicas adequadas a serem aplicadas por si mesmo com o intuito de acelerar a sua recuperação. Estimulava também os futuros terapeutas a sempre dividirem o seu conhecimento com quem estava sob os seus cuidados.
Em relação às práticas de meditação profunda, transmitidas sob o nome de Tao In, o Mestre Liu trazia sua verdadeira caracterização, sempre com o cuidado de não banalizá-las na perspectiva de custo e benefício, princípio tão cultivado nos dias de hoje. A busca da serenidade e do consequente autoconhecimento que advém dela, não devem ser confundidas com a busca do poder pessoal e da autoafirmação no mundo.
Uma brincadeira feita por mim, e por alguns colegas, era relatar, a quem nos perguntasse sobre o resultado obtido com a prática de meditação, que ela não nos deixou menos idiotas, só nos fez perceber o quão idiotas nós éramos.
Outras informações disponíveis em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Liu_Pai_Lin