A palavra “Esquecer” foi utilizada pelo mestre Liu Pai Lin para designar, nos Cinco Cuidados, o serenar, o relaxar, o recolher. É bastante apropriada para referendar não só a necessidade de cuidado com a saúde, mas também oferecer sentido a uma prática que tenha como fim a serenidade.
É preciso compreender que as grandes dificuldades encontradas pelas pessoas ao praticar alguma técnica de recolhimento está, em primeiro lugar, na forma em que ela é pensada, ao se imaginar poder exercer algum tipo de controle mental que as faça acalmar.
Aqui no Ocidente, na expressão do conceito da dualidade criadora e mantenedora da vida, sempre é colocado o princípio ativo na frente do receptivo: Céu e Terra, Expansão e Recolhimento, Dia e Noite, e é natural conceber que a ação expansiva nos dá potência, nos faz competitivos, produtivos e com isso, bem sucedidos. Já no oriente chinês tradicional sempre se coloca o receptivo Yin antes do ativo Yang expressando a compreensão que a verdadeira expansão nasce do ato de recolher e serenar.
O Esquecer designa um desejo de não fazer, de não querer e principalmente de deixar tudo acontecer livremente sem a participação (de nenhuma tentativa inútil) de parar os pensamentos. Tem a conotação de o praticante colocar-se na posição de observador de si mesmo, de estabelecer um fluxo livre - “as coisas vêm e vão e a pessoa permanece”- até espontaneamente afastar-se dos estímulos externos e internos mobilizadores da atenção.
Para os Taoístas, serenar era considerado o melhor recurso para harmonizar a vitalidade, fortalecê-la e entrar em contato consigo mesmo, porém nem todos conseguem alcançar este estado diferenciado de percepção de si. O reflexo do caos vivenciado pelas pessoas no dia-a-dia pela movimentação contínua e irrefletida da mente, das emoções e do corpo, não as impele à serenidade, pelo contrário, o movimento gera movimento e, conseqüentemente, dificuldade em recolher-se.
O Esquecer como etapa introdutória das práticas de recolhimento, induz a um estado introspectivo que reserva várias qualidades:
Gerar energia vital - dá ao praticante uma maior capacidade de ação no mundo e possibilidades de realização pessoal.
Conduzir a um estado de serenidade - possibilita a recapitulação e a compreensão das informações recebidas, a reflexão e assimilação dos elementos vividos.
Obter uma melhor interação do ser com o mundo - estabelece uma referência interna e um sentido na relação com o externo - ao saber de si compreende-se melhor o outro.
Para alcançar um estado de recolhimento profundo é fundamental estabelecer o fluxo harmônico das energias Yin e Yang no corpo e, para isso, é preciso três intenções iniciais: Sentir e Relaxar, Treinar a Atenção e Deixar Fluir, ou melhor, aprender a ouvir o corpo e suas necessidades, senti-lo e ao mesmo tempo relaxá-lo focando a atenção em seu ritmo e, por último “libertar a energia” para que ela flua livremente. Estas etapas são consideradas básicas para se alcançar o estado de meditação.
Para que isso aconteça é preciso, usando a linguagem Taoísta, um não fazer, um não querer, um permitir, um deixar manifestar aquilo que é espontâneo e conseqüente do relaxamento e que não necessita do controle e da participação da mente para acontecer. Muitas técnicas podem ser utilizadas para se atingir este estado diferenciado de consciência e são chamadas comumente de meditação, no entanto, meditar é muito mais do que aplicar uma fórmula determinada. Diz respeito ao entrar num estado diferenciado de percepção em que o corpo, a mente e as emoções estão em repouso absoluto, sem manifestar-se de forma alguma, embora a pessoa, ao mesmo tempo, sinta-se de forma intensa, mas por um novo parâmetro de percepção sobre si mesma. Este estado de percepção/consciência na tradição Taoísta é chamado de Vazio.
Alcançar o Vazio, entrar no estado de Meditação, não é algo inatingível, porém é pouco comum. A proposta que se faz nos Cinco Cuidados para a Saúde, através do Esquecer, é um treino constante e básico de recolhimento introspectivo, que se contrapõe ao estímulo dispersivo presente na expansividade do mundo moderno. O Esquecer é um se dar carinho e atenção, buscando como referência o dentro, o olhar para si, uma forma de autoconhecimento que poderá, quem sabe, em tempos melhores ser ensinado e praticado comumente.
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Cinco Cuidados - Movimento
Na China antiga as práticas corporais com fins terapêuticos eram utilizadas para manter a integridade física, emocional e mental no decorrer da jornada pela vida. Naquela época, e ainda hoje, acreditava-se que o movimento corporal é indispensável ao desenvolvimento do ser humano, tanto para o bom funcionamento do organismo, como também um importante elemento para o processo de autoconhecimento. Faz-se a ressalva, entretanto, que se pode dispersar a energia vital quando feito de forma excessiva.
Algumas práticas corporais chinesas estão identificadas com a visão terapêutica da sua Medicina Tradicional (MTC) e da filosofia Taoísta que possuem uma visão energética de saúde. Estas práticas visam potencializar a energia vital e distribuí-la pelo corpo, ao usar uma movimentação que tem como característica o equilíbrio do Yin e Yang e a obtenção de uma consciência corporal que permite ao praticante serenar (yin) durante a prática, como também usufruir dos benefícios estimulantes (yang) do exercício físico.
Essas técnicas provocam a movimentação lenta e atenta, em que o se sentir na ação leva a obtenção de uma maior percepção do corpo e de suas necessidades. O movimento, desta forma, serve como treino da capacidade de atenção e ajuda a perceber e a relaxar as tensões, etapas preliminares às práticas imóveis de serenidade.
Ao movimentar-se lentamente o praticante tem mais facilidade em estar “presente” no seu fazer, sentir o corpo e atentar aos seus movimentos, como também desfruta da sensação de, aos poucos, conseguir ter uma perspectiva mais próxima das práticas de serenidade profunda. Por ter estas características, o Tai Chi Chuan pode ser descrito como uma meditação em movimento.
A inter-relação entre filosofia Taoísta, medicina chinesa e práticas corporais faz delas uma terapêutica complementar nos tratamentos de saúde e na prevenção de doenças. O movimento físico contempla o corpo em toda a sua dimensão de equilíbrio e funcionamento, em que o conjunto das partes internas e externas se complementam.
Os exercícios físicos que são benéficos à saúde, ao preservar o potencial de energia vital e distribuí-lo melhor pelo corpo, tem como características:
perceber-se durante a ação.
fazer o máximo de movimento com o mínimo de esforço.
ser firme sem ser bruto, suave sem ser mole.
flexibilizar a coluna.
não acelerar o coração e a respiração.
obter uma transpiração suave.
não induzir ao fluxo excessivo de energia para parte superior do corpo.
ativar a circulação de sangue e energia aos membros, principalmente os inferiores.
Para os taoístas, a vitalidade recebida dos pais e da natureza dá a cada um o seu tempo de vida, ela é armazenada nos sistemas de energia Água (rins) e gera a energia do sistema Fogo (coração), definindo um número de batimentos cardíacos que o corpo do individuo terá; com isso acredita-se que ao acelerar o coração, haveria um maior consumo do potencial nato de vitalidade, diminuindo conseqüentemente a longevidade.
Serenar o coração e fortalecer os rins era considerado pelos antigos chineses o estado harmônico ideal, por proporcionar que a energia do fogo (coração) que tem natureza ascendente, desça, e a energia da água (rins) que, ao contrário, tende a descer, suba, e gere no corpo um ciclo de vida igual o da natureza.
Água e Fogo, como representantes dos dois pólos energéticos Yin e Yang, devem estar unidos e regular-se mutuamente. A subida da água acalma a expansividade do fogo e a descida do fogo estimula a transformação e subida da água. A coluna, juntamente com toda a medula óssea regida pelos rins, se beneficia pela subida da água. O coração, os vasos sanguíneos e a mente se beneficiam pela descida do fogo.
A “essência” guardada nos rins, o “sangue verdadeiro” guardado no coração e o “suco cerebral” são considerados pelos taoístas como “as três preciosidades do corpo”, imprescindíveis à manutenção da saúde e da vida. A sua união, troca de vitalidades e não dispersão de energia proporcionam a chance de se ter saúde e “consciência de si para poder unir-se ao Tao e voltar à origem”, conciliando o macro ao microcosmo. Estes mesmos princípios estão presentes na prática de serenidade e nos tratamentos da medicina chinesa que não perderam o referencial da antiga filosofia Taoísta.
Algumas práticas corporais chinesas estão identificadas com a visão terapêutica da sua Medicina Tradicional (MTC) e da filosofia Taoísta que possuem uma visão energética de saúde. Estas práticas visam potencializar a energia vital e distribuí-la pelo corpo, ao usar uma movimentação que tem como característica o equilíbrio do Yin e Yang e a obtenção de uma consciência corporal que permite ao praticante serenar (yin) durante a prática, como também usufruir dos benefícios estimulantes (yang) do exercício físico.
Essas técnicas provocam a movimentação lenta e atenta, em que o se sentir na ação leva a obtenção de uma maior percepção do corpo e de suas necessidades. O movimento, desta forma, serve como treino da capacidade de atenção e ajuda a perceber e a relaxar as tensões, etapas preliminares às práticas imóveis de serenidade.
Ao movimentar-se lentamente o praticante tem mais facilidade em estar “presente” no seu fazer, sentir o corpo e atentar aos seus movimentos, como também desfruta da sensação de, aos poucos, conseguir ter uma perspectiva mais próxima das práticas de serenidade profunda. Por ter estas características, o Tai Chi Chuan pode ser descrito como uma meditação em movimento.
A inter-relação entre filosofia Taoísta, medicina chinesa e práticas corporais faz delas uma terapêutica complementar nos tratamentos de saúde e na prevenção de doenças. O movimento físico contempla o corpo em toda a sua dimensão de equilíbrio e funcionamento, em que o conjunto das partes internas e externas se complementam.
Os exercícios físicos que são benéficos à saúde, ao preservar o potencial de energia vital e distribuí-lo melhor pelo corpo, tem como características:
perceber-se durante a ação.
fazer o máximo de movimento com o mínimo de esforço.
ser firme sem ser bruto, suave sem ser mole.
flexibilizar a coluna.
não acelerar o coração e a respiração.
obter uma transpiração suave.
não induzir ao fluxo excessivo de energia para parte superior do corpo.
ativar a circulação de sangue e energia aos membros, principalmente os inferiores.
Para os taoístas, a vitalidade recebida dos pais e da natureza dá a cada um o seu tempo de vida, ela é armazenada nos sistemas de energia Água (rins) e gera a energia do sistema Fogo (coração), definindo um número de batimentos cardíacos que o corpo do individuo terá; com isso acredita-se que ao acelerar o coração, haveria um maior consumo do potencial nato de vitalidade, diminuindo conseqüentemente a longevidade.
Serenar o coração e fortalecer os rins era considerado pelos antigos chineses o estado harmônico ideal, por proporcionar que a energia do fogo (coração) que tem natureza ascendente, desça, e a energia da água (rins) que, ao contrário, tende a descer, suba, e gere no corpo um ciclo de vida igual o da natureza.
Água e Fogo, como representantes dos dois pólos energéticos Yin e Yang, devem estar unidos e regular-se mutuamente. A subida da água acalma a expansividade do fogo e a descida do fogo estimula a transformação e subida da água. A coluna, juntamente com toda a medula óssea regida pelos rins, se beneficia pela subida da água. O coração, os vasos sanguíneos e a mente se beneficiam pela descida do fogo.
A “essência” guardada nos rins, o “sangue verdadeiro” guardado no coração e o “suco cerebral” são considerados pelos taoístas como “as três preciosidades do corpo”, imprescindíveis à manutenção da saúde e da vida. A sua união, troca de vitalidades e não dispersão de energia proporcionam a chance de se ter saúde e “consciência de si para poder unir-se ao Tao e voltar à origem”, conciliando o macro ao microcosmo. Estes mesmos princípios estão presentes na prática de serenidade e nos tratamentos da medicina chinesa que não perderam o referencial da antiga filosofia Taoísta.
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